domingo, 19 de julho de 2009

NEM O TEMPO FOI APRENDIZAGEM


“Se você aprender apenas uma coisa nessa existência, deixe que seja isto: você é responsável pela criação de sua felicidade”

(Bartholomew)

Seus 80 anos não lhe ensinaram da vida o essencial: nunca atrelar sua felicidade a existência do outro. Nem seus cabelos brancos serviram para que parasse de sofrer e sentir pena de si mesma.

Levara uma vida amarga mesmo quando ainda cantava, ou sorria em público, atribuindo-se todas as culpas possíveis ou impossíveis. Mesmo aquelas que só existiam no seu imaginário eram suas. Afinal era o grande demônio das relações truncadas e, concomitantemente, a grande vítima da história.

Nunca se sentiu amada pelo marido, mesmo casada com ele há 60 anos. Dizia não ter sido uma opção, mas uma imposição paterna. Nunca percebeu que a sua escolha estava atrelada à figura do outro. Acreditava que o pai sabia melhor da sua felicidade e esperava que o marido a fizesse feliz.

Quis fazer de seus muitos filhos seus escudos, suas âncoras. Tentou costura-los entre si e a si mesma, fingindo uma família unida. Mas, na teia que se formou, os fios se quebraram e um a um foi escapulindo onde e quando conseguia. Os poucos que lhe deram algum motivo de felicidade distanciavam-se cada vez que ela tentava agarra-los.

Aprendeu, com a vida, a manipular as pessoas que a cercavam, a persuadi-las a realizar seus desejos, como uma aranha apanha insetos em sua teia, com o intuito de sugar-lhes a vida, torna-los fontes de sua alegria, de sua satisfação nunca completa.

Sempre lamuriosa, teceu uma história de lágrimas, amarguras e crenças como alegorias orientadoras repetidas com tanta freqüência e tamanha convicção que esqueceu de que eram apenas temas de um enredo criado por ela e passou a agir como se fossem todas verdadeiras.

Nunca teve satisfeitos seus desejos materiais. O dinheiro sempre fora um problema em sua vida. Vivia comprando o mais barato e sempre só o essencial para a sobrevivência. Precisava poupar para o tempo das vacas magras. Nem se deu conta que permanecia na miséria tanto material quanto de espírito. Ainda almejava que um filho enriquecido a tirasse daquele lugar de pobreza, queria orgulhar-se dele, mas ele não vinha. Talvez não existisse a não ser na sua crença da felicidade atrelada ao outro.

Nunca teve satisfeitos seus desejos da alma. Acreditava piamente que seria capaz de amar a si mesma se outra pessoa a amasse primeiro. Só construiu relacionamentos fundamentados no Ego e esse, só dá na esperança de receber, só procura o outro para ser amado. Foi assim que viveu, na eterna ansiedade de ser especial para alguém, para aumentar seu amor próprio ou diminuir seu sentimento de inferioridade.

Seus oitenta anos não lhe serviram para ver-se no espelho do mundo. Nunca percebeu que só receberia do outro o que sentia por si mesma. Terminaria assim seus dias? Ou ainda haveria tempo para encontrar a tão almejada felicidade dentro de si mesma?

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