sábado, 31 de outubro de 2009

METAMORFOSES

Nasci com desejo de Ícaro!
Linda
De um azul esverdeado tão iluminado...
Nos jardins coloridos cresci
Não sem medo de alçapões e caçadores.
Esgueirei-me pelas frestas
Nem sempre conseguia livrar-me de mãos astutas.
No entanto, sobrevivia
Lambia meu sangue
Engolia-o misturado às lágrimas insistentes.
Quando podia, batia minhas asas sob o sol
E voava livre para a imensidão.
Invejava os pássaros que mais alto podiam ir
Tentei alcançá-los num vôo sem volta
E a beleza de minhas asas encontraram seu fim.
Com corpo, sem asas
Desenvolvi unhas, não, garras
E um bico que crescia a cada dia.
De braços esqueléticos saíram penas
E reaprendi a voar
Agora mais alto.
O medo do predador?
Era minha companhia constante,
Mas agora tinha garras
Tomava o que queria
Agora tinha asas enormes
Abria-as e ia onde queria
Agora tinha um bico
Meu grito se ouvia em eco em distâncias inimagináveis.
Sempre que o sol se põe
Sinto o peso do vivido
As unhas longas e escurecidas
As penas grossas demais nem sempre suportam meu corpo em grandes ventanias
E meu bico cansado de resvalar um grito que já não é ouvido.
Sinto que é chegada a hora
De me recolher no alto de uma montanha
Meu ninho procurar
e reencontrar as forças adormecidas.
Meu grito silenciar desgastando meu bico nas pedras
e aprender a ouvir.
Minhas unhas incapazes de agarrar o que me sustenta arrancar
e permitir que os mais jovens me alimentem.
Minhas penas envelhecidas, pesadas e sem brilho extrair
e abrir espaço para novas asas surgirem
Pois do alto da minha colina,
durante minha renovação, acredito no mito
vislumbro uma amplidão desconhecida
e o desejo de Ìcaro renasce
agora como Fênix
procuro ramos aromatizados para meu ninho
peço ao sol que as deixe incandescentes
Que renasça em meu corpo
uma crista púrpura faiscante,
um pescoço longo e dourado,
uns olhos verde-azulados demasiadamente brilhantes,
uma cauda com penas brancas, roxas e azuis!
Que renasça em mim
umcoração que saiba amar,
umas mãos que saibam doar,
uma alma que saiba perdoar!
E de posse de minha nova vida,
recomeçarei meu eterno voo
em busca da minha Pedra Filosofal.