domingo, 27 de junho de 2010

SUA LUTA CONSTANTE

Quando você se sentir triste, pense que está num ringue, que é um lutador e que seu adversário é a infelicidade. Pode ser que você leve uma de direita... vai doer, com certeza.
Mas você é forte e vai levantar com vontade de bater... Talvez ela seja mais rápida e você leve outra de esquerda e caia...
E você, mesmo em meio a tanta dor, vai levantar e continuar a luta, com vontade de derrubá-la também. Vai parar de se defender e atacar... E vai bater com uma força que você nem imaginava que tinha... E... por algum tempo, vai vê-la no chão, aniquilada.
O gosto da vitória vai lhe trazer de volta a felicidade!
Mas não se iluda:
Ela vai recuperar suas forças e, quando você menos esperar, vai lhe atacar novamente, traiçoeiramente. E você vai ter que continuar sua luta, eternamente, se não quiser ser locauteado pela imortal infelicidade.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A MINHA FLOR DE VIDRO NÃO É A DE MURILO RUBIÃO

Tal qual a lua que se alimenta da luz do outro e só consegue iluminar quando determinadas noites chegam... EU e minha Flor de Vidro (meu processo criador.
Será que continuo vagando nos limites do sonho (o de conseguir escrever)?
Um novo passeio pelos campos da cultura, da ciência, da criação literária e deparo-me novamente com a mata(todo o saber historicamente construído) - termo de todos os meus passeios - densa, fechada a princípio. Mas, olhando atentamente encontro algumas fissuras...
Desejo de penetrar no bosque e encontrar a flor azul -a totalidade do saber- (tão ampla quanto o céu e tão traiçoeira quanto o mar). Mas será apenas ilusão de ótica? as fissuras existirão realmente?
Agarro-me com sofreguidão a esses campos verdes, às vezes cinzentos, com medo de reencetar o sono interrompido. Quero sentir a seiva nova pelo meu corpo e fazer desaparecer de vez essa venda negra (razão do meu terror) que há tantos anos me impede de ser Pierre Menard.
De repente silencia-me a convicção de que 12 anos tinham-se esvanecido, enquanto eu sonhava com minha Flor de Vidro. Há doze anos meu querido Verdi, hoje meu companheiro imaginário, dedicou-me palavras de Zibaldo:
"O tempo que a gente gasta sonhando é o mesmo que a gente gasta fazendo."
Ele as "catou" para mim, no tempo que nosso amor se nutria da luta e do desespero.
A saudade trouxe de volta reminiscências amargas, mas, ao mesmo tempo, fez funcionar a minha biblioteca mental, onde estão aqueles livros amados. Seguindo os passos de Walt Whitman respondi somente com apaixonados beijos de despedida os acenos de amor que recebi e fui condenada à irreparável solidão. Talvez por isso ainda não tenha conseguido por fim "as lamentações interiores, bibliotecas, críticas lamurientas" e seguir "em direção à estrada aberta", onde com certeza alcançarei minha flor de vidro: o meu grande fantasma!
Será ela real ou imaginária? Todos esses anos sem tocá-la com receio de quebrá-la, com medo que minha flor se fragmentasse no chão e eu não fosse capaz de remontá-la...
E foi retornando aos campos verdes e cinzentos, guiada por uma mão amiga, que comecei a desconstruir edifícios de sapiência, saberes encaixotados até os campos se tornarem negros. Mas como a luz se faz na escuridão, minha cegueira permitiu-me ver que essa era justamente a estrada aberta: deixar de andar tanto em ruínas circulares na busca de seiva da mata, porque nunca conseguirei me nutrir de todas as espécies de seivas existentes; permitir que minha Flor de Vidro se despedace, se fragmente e, principalmente, buscar dentro de mim a coragem e a ousadia de rasgar a máscara que me mantêm na ignorância de mim mesma, da minha capacidade de (re)montar, ou melhor, (re)criar a minha Flor de Vidro, como a de Murilo Rubião.
Como a dele? Quais os limites entre um conto e um ensaio? existirão limites?
Na verdade, não quero compor outra Flor de Vidro, mas a Flor de Vidro (como Pierre Menard).
Esta é a minha Madre-Silva refletida no vidro!
Minha? Não poderá minha pobre autoria ser refutada em meio a tantas citações? apropriações? cópias? de quem será a autoria da Flor de Vidro? de Murilo Rubião? que com tanta sutileza cita o Mito de Édipo através da "cegueira reveladora"? o Mito do Cupido com a "venda dos olhos" revelando que o amor é cego? E, nesses mitos não haveriam outras citações?
Ah! Busca insana essa!
Uma de minhas poucas certezas é de não estar incorrendo numa tautologia. Ou será incerteza?
Não importa! o que importa é sentir como Fernando Pessoa:
Fingi tão completamente
que cheguei a fingir que é flor
a flor que deveras criei.
Afinal, quem é capaz de determinar os limites entre a ficção e a realidade, quando se vive o inferno da criação?
E foi assim que aconteceu
Tirando uma mentira ou duas!
Ou, talvez, seja a mais pura verdade.

(Risolete Maria Hellmann. Escrito em 1997 depois das aulas com Ilza Matias de Sousa na UFRN, Natal, sobre crítica e criação.)